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Médica da USP explica a hipótese, ainda em estudo, levantada pela Opas sobre infecção ainda dentro do útero

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) alertou recentemente seus membros para os riscos da doença do Oropouche e a Secretaria Estadual de Saúde confirmou os primeiros casos, que vêm aumentando no país, no estado de São Paulo. Agora levantou-se também a suspeita de transmissão intrauterina. “Estão em investigação seis casos de transmissão vertical (de mãe para filho) da infecção da febre do Oropouche. São três casos em Pernambuco, um na Bahia e dois no Acre. Dois casos evoluíram para óbito fetal, houve um aborto espontâneo e três casos apresentaram anomalias congênitas, como a microcefalia”, de acordo com o Ministério da Saúde.

No entanto, ainda é cedo para afirmar em definitivo uma relação de causa e consequência, ou seja, que os abortos e anomalias são por causa do Oropouche. Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP, comenta a doença e a hipótese de ser transmitida verticalmente, explicando as mudanças que ocorreram e o que precisa ser feito.

Mudanças no vírus Oropouche


Pertencente ao grupo dos arbovírus, tal como a dengue, chikungunya e zika, o Oropouche chegou ao Brasil na década de 1960. Apesar de alguns episódios, não causava grande preocupação. Agora, segundo a OPAS, são quase 7.700 casos confirmados de Oropouche nas Américas neste ano, dos quais 90% foram no Brasil. Cresce a preocupação pelo seu potencial de ser tornar epidêmico, e também por já ter ocasionado duas mortes em adultos e a suspeita de transmissão vertical.


O cenário destoa com o histórico do vírus, que sempre se manteve à margem das principais doenças. Ester Sabino explica que isso se deve a mudanças na estrutura viral, criando essencialmente um ‘novo Oropouche’: “Ele tem segmentos e por isso pode recombinar com outros que estejam na natureza.” A professora explica que essas mudanças provocaram a atual epidemia. “É quase como se fosse um novo vírus”.

Com a combinação do vírus antigo com novos segmentos de outros vírus, o resultado é uma doença imprevisível. Ela compara a situação à gripe Influenza, que passou por um processo semelhante. Houve uma junção de diferentes “pedaços” de vírus, atribuindo novas características e gerando efeitos inéditos. Isso explicaria o porquê do surto atual e também da transmissão vertical, que está sendo investigada somente agora, apesar do vírus do Oropouche já estar no Brasil há mais de meio século.

Transmissão vertical


Outros vírus do mesmo grupo do Oropouche são passíveis de transmissão mãe-filho, e o mesmo pode estar ocorrendo agora. A Zika, por exemplo, faz parte desse grupo e gerou uma crise sanitária em 2015 por ter causado muitos casos de microcefalia. No entanto, apesar das suspeitas da OPAS, falta ainda muita pesquisa. O próprio Ministério da Saúde diz: “As análises estão sendo feitas pelas secretarias estaduais de saúde e especialistas, com o acompanhamento do Ministério da Saúde, para concluir se há relação entre a febre do Oropouche e casos de malformação ou abortamento”.

Febre oropouche apresenta sintomas semelhantes aos da dengue


Segundo Ester, o cenário indica que provavelmente há uma relação entre a doença e os casos de abortos e microcefalia, e que “estamos caminhando para determinar isso”, mas que isso não será o fim da pesquisa. Muito além de definir só se é ou não a causa, é preciso entender a frequência, os meios e diversas outras variáveis: “Não quer dizer que a pessoa que se infectou com o Oropouche e está grávida vai ter problema com o feto. Pode ser uma coisa pouco frequente, muito frequente… este próximo passo é muito importante”.
Há também outros tipos de transmissão vertical, como pelo parto natural e pela amamentação, mas isso varia de caso a caso. O que precisa ser feito agora é estudar o vírus reformulado e como ele age. Ela explica que não há regra geral para as doenças e que cada uma age de uma forma. Por exemplo, há doenças em que o feto está suscetível a complicações de saúde, mas o recém-nascido, não – ou seja, para assumir qualquer efeito, é preciso pesquisa para se determinar concretamente.

Prevenção


Comparando com o zika vírus, Ester Sabino diz que já avançamos bastante no enfrentamento a epidemias. Se lá em 2015 as ações de combate intensivo à doença só se deram quando a epidemia já estava quase acabando, agora a ciência está agindo mais imediatamente, podendo também demonstrar “todo o seu potencial”.

Mas enquanto ainda pouco se sabe exatamente sobre esse novo vírus, as recomendações para a prevenção são as mesmas para a dengue: “Usar repelente, calças e mangas compridas – tudo o que evite que [as pessoas] sejam picadas”. Vale adicionar também o uso de telas de proteção nas janelas e portas dos ambientes, em especial em áreas endêmicas. Já a atenção é redobrada para as gestantes, que precisam se cuidar para descartar qualquer risco de afetar também o feto.

Dentre os sintomas para se estar atento, estão “início súbito de febre, dor de cabeça, rigidez nas articulações, dores no corpo e, em alguns casos, fotofobia, diplopia (visão dupla), náusea e vômitos persistentes. Os sintomas podem durar de cinco a sete dias. Raramente casos graves podem incluir meningite asséptica” (Organização Pan-Americana de Saúde).

*Estagiário sob supervisão de Marcia Avanza e Cinderela Caldeira

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